Segundo dados do IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, a maioria das pessoas que ascendem para a classe C é negra. Um total de 10% da população afrodescendente passa a ter uma faixa salarial entre R$ 2.000,00 e R$ 4.000,00 a cada dez anos. E pesquisas recentes do IPEA indicam que a classe média, como é popularmente conhecida, poderá ser chamada “preta”, haja vista a quantidade de 70% de negros na pobreza e a possibilidade desses ascenderem financeiramente.
Influentes nomes do pensamento sociológico e membros de movimentos negros como Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes e Oracy Nogueira afirmam ser o fator racial o principal entrave para a mobilidade social no Brasil. E embora haja nas sociedades predominantemente capitalistas como a brasileira, a supervalorização do status social de um indivíduo e a capacidade de ostentar bens materiais desse, deve-se levar em conta a hipótese de que a classe social não pode sobrepor-se a outros fatores como origem étnica ou a crença religiosa, que são previamente estereotipados pela sociedade, independente do poder aquisitivo dessas pessoas. Deste modo, mesmo a ascensão social do negro, não minimiza o preconceito racial, pois a presença do elemento de cor em um meio social “impróprio à sua origem étnica” contribui para aumentar ainda mais a discriminação. Logo, para esses cientistas sociais, a constituição da nação brasileira está estruturada, dentre outros pilares, a partir do mito da democracia racial.
Estudos opõem-se a tese de que o racismo está necessariamente relacionado à pobreza. Mesmo possuindo uma situação econômica privilegiada o negro é vitima de preconceito. Florestan Fernandes, pesquisador da relação entre classe e raça no Brasil, nos fala:
“Existem duas barreiras na sociedade brasileira que são muito fortes. Uma é social, a barreira de classes, que o homem branco vence quando ele consegue uma oportunidade de se escolarizar, se profissionalizar, de “subir” socialmente. Já o negro tem a barreira social e a barreira racial. Ele tem duas barreiras a enfrentar e a vencer. Por isso é que classe e raça estão tão interdependentes. E depois do negro conseguir êxito na profissão, ele ainda precisa lutar por sua autoafirmação como pessoa. Foram, por exemplo, os homens e mulheres negros de classe média que descobriram as manifestações mais chocantes do preconceito e da discriminação.” (FERNANDES, 2004)
Em sua pesquisa de doutorado, denominada “Negros de classe média em São Paulo: estilo de vida e identidade negra”, o antropólogo Reinaldo da Silva Soares busca relacionar identidade racial, identidade de classe e estilo de vida. Soares entrevistou vinte e quatro negros de classe média, todos ligados a grupos organizados em torno da questão racial, se a sua condição social privilegiada os faria imunes à discriminação. O resultado foi unânime: todos os entrevistados afirmaram que mesmo tendo um padrão de consumo considerável, são discriminados.